Multiplicam-se em nosso país as grandes redes de restaurantes fast-food.
Com a garantia de um atendimento rápido esses restaurantes são cada vez mais procurados pelos brasileiros que tem sempre menos tempo para se alimentar. Enquanto em um restaurante comum você tem que se sentar, fazer o pedido e esperar a preparação do prato para finalmente pagar e ir embora, no fast-food o processo é exatamente inverso: primeiro você paga, já sai com o alimento em mãos e aí é só procurar um lugar para se sentar ou ir comendo enquanto volta para o escritório. Em alguns fast-foods não é necessário nem sair do carro: os drive-thrus eliminaram até o tempo perdido entre estacionar o carro e ir até o balcão para retirar o alimento. Em poucos minutos você tem a garantia de ingerir muitas calorias quase sem esforço algum.
A proliferação dos fast-foods expressa bem alguns valores de nosso mundo pós-moderno. As pessoas estão cada vez mais apressadas e querem à qualquer custo minimizar esforços, diminuir o tempo e pensam que com o dinheiro é possível fazer tudo rápido e sem muito envolvimento, afinal, na era do fast-food você nem precisa conversar com um garçon ou esperar o prato chegar à mesa: você faz tudo isso de uma vez só.
Essa pressa toda chegou à Igreja e muitos crentes adotaram o mesmo princípio do fast-food: querem tudo rápido e se for necessário pagam até caro por isso. Sem tempo para orar, ler a Bíblia e nutrir comunhão com seus irmãos em Cristo eles concentram cada vez mais sua vida espiritual no domingo e de modo particular no culto. Repetindo o que fazem a semana toda ao ir ao fast-food os crentes chegam aos templos e querem uma alimentação bem ‘espiritual’ (para não dizer calórica) e de preferência rápida. Esperam receber naquele dia tudo o que precisarão durante a semana e como não tem muito tempo para investir em relacionamentos fazem isso de maneira solitária, sem muito envolvimento com os outros membros da Igreja. Portanto vai se tornando cada vez mais comum o crente que transformou a vida cristã em um evento cristão de final de semana ou então uma vida de oração em um momento semanal de oração e por aí vai.
Às vezes me pergunto como seria se Jesus Cristo tivesse vindo ao mundo em pleno século XXI. Talvez alguns discípulos, ao serem convocados para segui-lo, diriam que não teriam tempo ou que só poderiam fazê-lo nos finais de semana. Outros diriam que o discipulado em tempo integral por três anos seria impraticável. Alguns reclamariam do Sermão do Monte que sem dúvida foi demorado. E é quase certo que alguns o criticariam pela demora da ressurreição. Com a mentalidade desse tempo o discipulado que Jesus imprimiu e o estilo de vida que deixou como exemplo simplesmente não serviriam. E também seria impraticável o modelo de Igreja encontrado no Livro de Atos onde diariamente os discípulos estavam juntos, orando, louvando e desfrutando de comunhão. Isso tudo porque nosso cristianismo foi reduzido a um programa que acontece em nossos horários de folga.
Nessa era do fast-food temos uma inclinação cada vez maior a programas e estes precisam ser sempre melhores pois como a vida cristã de muitos se resume a eles então precisam valer a pena. Criou-se inclusive um vocabulário que expressa muito bem essa necessidade. Falamos sobre o culto dominical: ‘- deixe eu recarregar as baterias para aguentar a semana inteira’ ou então ‘vou encher o tanque através do culto deste domingo.’ O que está por trás dessas frases senão o pensamento de que a vida cristã se limita ao domingo. É naquele dia que recebemos as ‘calorias espirituais’ e vamos gastando-as durante a semana até chegar o próximo domingo quando já estaremos desnutridos e anêmicos espiritualmente.
A vida cristã é mais do que cultos e programas. Como o próprio nome diz ela é ‘vida.’ Se perdermos a noção da ‘vida’ então viveremos de programas e transformaremos o ‘meio’ em ‘fim.’ Os cultos, aulas de EBD, reuniões de Ministério, grupos de oração, acampamentos e outras ações relacionadas à Igreja não são fins mas meios. Elas incentivam os crentes a chegar ao objetivo que é o de nutrir relacionamento com Deus e uns com os outros. Os programas seriam como que um recurso a mais e não o único. Olhando para a Igreja que nascia em Atos 2 vemos que a base de tudo eram os relacionamentos. Aqueles crentes tinham forte relação uns com os outros e faziam dos relacionamentos oportunidades para exercer a mutualidade que é a base da vida cristã. Possivelmente eles aprenderam com os apóstolos que os valores do Reino de Deus podem ser compreendidos através de relacionamentos, como bem explicado por Jesus em Mateus 22:35-39.
Relacionamentos exigem tempo. Uma das grandes explicações para as cada vez mais frequentes quebras de relacionamento é exatamente a falta de tempo. Cônjuges não conseguem tempo para nutrir relacionamento e acabam se divorciando. Amizades terminam, filhos perdem contato com os pais e por aí vai. Sem tempo relacionamentos acabam e com eles vai-se a comunhão cristã e a unidade do Corpo de Cristo. Jesus chamou os discípulos para aprenderem com Ele através de um discipulado que consistiu basicamente de relacionamento. Hoje transformamos o mesmo discipulado em um programa que envolve aulas, apostilas e até recursos digitais mas exclui o relacionamento.
É hora de achar tempo para se relacionar com Deus e com a família cristã. Para tanto precisamos repensar nossa estrutura e modelo a fim de que os programas que fazemos não substituam mas sim incentivem os relacionamentos. Não podemos reduzir a vida cristã a alguns programas mas sim deixar claro que o relacionamento com Deus e com os irmãos é imprescindível para a verdadeira noção de cristianismo.
Substituamos a idéia de uma comida rápida por uma refeição realmente saudável. Nada de fast-food mas sim uma boa refeição em família tendo como principal ingrediente o amor cristão e a paz de Cristo que nos une e fortalece.
Vivamos a vida cristã em sua intensidade.
Texto de Guilherme de Amorim Ávilla Gimenez, Pastor Titular da Igreja Batista Betel.
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