MINHA CRENÇA

Creio que a Bíblia é a palavra inspirada de Deus e a autoridade máxima, revelando que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Creio que o Homem é criado à imagem de Deus, para uma vida eterna através de Cristo. Embora todos os homens tenham pecado e careçam da glória de Deus, estando totalmente perdidos sem Cristo, Deus faz a salvação possível através da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Creio que arrependimento, fé, amor e obediência são respostas necessárias e adequadas à graça de Deus estendida a nós, e que Deus deseja que todos os homens sejam salvos e venham a ter conhecimento da Verdade. Creio que o poder do Espírito Santo é demonstrado em nós e através de nós para o cumprimento do último mandamento de Cristo: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Marcos 16.15).

Curso de Teologia

O que é a igreja? Visão reformada!



A igreja de Deus existe e está presente no mundo. O Senhor Jesus falou dela, quando disse aos discípulos que “edificaria sua igreja” (Mt 16.13-20) e quando determinou que os discípulos faltosos fossem corrigidos pela “igreja” (Mt 18.17). Podemos definir a igreja de Cristo como sendo a comunhão de todos os que foram chamados por Deus, mediante a sua Palavra, e que pela ação do Espírito Santo recebem a Cristo como único Salvador e Senhor, que conhecem e adoram a Deus Pai, Filho e Espírito Santo, em verdade, e que participam pela fé dos benefícios gratuitos oferecidos por Cristo.

A igreja é una, ou seja, só existe uma. Cristo sempre teve somente uma noiva: “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela” (Ef 5.25). Ao mesmo tempo, ela é universal, está espalhada pelo mundo todo, e tem pessoas de todas as tribos, povos, e raças (Ap 7.9-10). Isto não quer dizer que a igreja de Cristo é do tamanho do mundo. Existe uma diferença radical entre a igreja e o mundo. A igreja está no mundo, mas não é dele. Jesus orou pela igreja mas não pelo mundo (Jo 17.9).

A igreja de Deus sempre existiu e sempre existirá. Deus sempre teve e terá um povo para Si, para o adorar em espírito e em verdade. A igreja de Deus, porém, atravessou duas fases históricas distintas. No período antes de Cristo ela estava grandemente resumida à nação de Israel, e funcionava com rituais, símbolos e ordenanças determinadas por Deus, como figuras e tipos de Cristo. Com a vinda de Cristo e do Espírito no dia de Pentecostes, estas cerimônias foram abolidas, e agora adoramos a Deus de forma mais simples. Porém, é a mesma igreja, o mesmo povo, no Antigo e no Novo Testamentos. Antes de Cristo, os crentes em Israel se salvaram pela fé no Messias que haveria de vir. Depois de Cristo, somos salvos pela fé no Messias que já veio. O autor de Hebreus inclui na mesma relação dos heróis da fé os crentes do Antigo e do Novo Testamento (veja especialmente Hb 11.39-40).

A igreja de Deus, mesmo sendo una e indivisível, existe agora em duas dimensões: (1) a igreja militante, composta dos crentes vivos neste mundo, que ainda estão lutando contra a carne, o pecado, o mundo e Satanás; e (2) a igreja triunfante, composta daqueles fiéis que, tendo vencido a luta, já partiram deste mundo, e hoje desfrutam do triunfo na presença de Deus (Hb12.22-23). Estas duas partes da igreja de Deus se unirão na Vinda do Senhor Jesus, quando houver a ressurreição dos mortos, e nosso encontro com o Senhor, para com Ele ficarmos para sempre, e com nossos irmãos de todas as épocas e de todas as partes do mundo (1Tess 4.16-18).

A igreja militante se expressa aqui neste mundo por meio de igrejas locais. Paulo escreveu cartas a várias destas igrejas, como a de Corinto, Tessalônica, etc. (1Co 1.2; 1Ts 1.1). Igrejas locais são a organização dos crentes, ainda que informal, que se reúnem regularmente para cultuar a Deus, serem instruídos em Sua Palavra, se edificarem mutuamente e celebrar os sacramentos. As igrejas têm direção e liderança espiritual, promovem cultos de adoração, celebram os sacramentos, anunciam o Evangelho e praticam boas obras. Estas igrejas locais podem ter um aspecto estrutural e organizacional, mas jamais devem ser consideradas como um clube ou uma empresa, e nem os interesses organizacionais devem sobrepujar os interesses do Reino de Deus.

Estas igrejas locais podem ser mais ou menos puras, dependendo de quão pura é a pregação do Evangelho que ocorre ali, a celebração correta dos sacramentos e o exercício da disciplina entre seus membros.

É tarefa de cada igreja particular reformar-se continuamente à luz da Palavra de Deus, procurando cada vez mais aproximar-se do ideal bíblico. São os princípios bíblicos que são imutáveis, não as formas organizacionais e externas. As igrejas locais devem zelar pela pureza da pregação, da celebração dos sacramentos e pela vida espiritual e moral daqueles que ali se congregam.

E quem fez pacto com o diabo, tem que quebrar as maldições em sua vida, mesmo depois de crente?

Tem sido argumentado que o Brasil é um país místico, cuja grande parte da população tem se envolvido, uma vez ou outra, com o oculto. A quantidade de pessoas envolvidas com espíritos malignos é muito grande, quer através de procura consciente de contato com entidades espirituais, quer através de “inocentes” consultas aos búzios e leitura das linhas das mãos. As implicações de toda esta abertura para o reino das trevas, argumenta-se, é que dificilmente encontraremos nas igrejas pessoas que foram convertidas como adultas, e que não tiveram, ao menos, uma passagem superficial pelo mundo dos espíritos. Tais pessoas estão sujeitas a serem molestadas, oprimidas e mesmo invadidas por estes espíritos, aos quais deram o direito de entrar em suas vidas no passado, se não anularem estes “pactos” que foram feitos com eles, mesmo que inconscientemente.

A pergunta é se o tratamento recomendado nas Escrituras para estas pessoas é a prática de “quebra de maldições”, a anulação de pactos com demônios.

O mundo em que os apóstolos pregaram o Evangelho era infestado pelo ocultismo, e pela idolatria, possivelmente de forma tão intensa quanto o Brasil de hoje. Muitos dos convertidos pelos apóstolos vieram de um passado de ocultismo, artes mágicas e feitiçaria. Entretanto, em nenhum momento os apóstolos consideraram necessário acrescentar ao arrependimento e à fé coisas como quebra de maldições ou anulação de pactos com espíritos.

Um dos locais mais infestados era Éfeso. A cidade era conhecida como um centro de artes mágicas, e pelo culto da deusa Artemis (Diana). Esta deusa da mitologia grega era conhecida como a deusa do submundo, que controlava espíritos da natureza e dos animais selvagens. Sua imagem era coberta com os símbolos do Zodíaco, para lembrar aos adoradores de Éfeso que ela era uma divindade cósmica, com controle sobre os espíritos determinantes do destino.

Quando Paulo ali pregou o Evangelho, muitos efésios converteram-se a Cristo, boa parte dos quais havia se envolvido com artes mágicas, e certamente com o culto a Diana (Atos 19.18-20, 26-27). Como testemunho público de que já haviam sido libertos e resgatados pelo poder do Espírito Santo, vieram a público queimar seus livros de magia negra. Não foi pelo atear fogo naqueles livros que ganharam sua plena libertação. Eles já haviam sido libertados, quando creram (At 19.18).

Mais tarde, quando lhes escreveu a carta que conhecemos como Efésios, o apóstolo Paulo não sentiu nenhuma necessidade de instrui-los a quebrar maldições que fossem resultado de pactos ainda pendentes com o antigo culto aos demônios com que se envolveram no passado

Antes, em sua primeira viagem missionária, Paulo havia levado à Cristo o procônsul Sérgio Paulo, na ilha de Patmos (Atos 13.4-12). Sérgio Paulo havia se envolvido com artes mágicas, pois tinha ao seu lado um judeu mágico, um bruxo, chamado Barjesus. Possivelmente era seu conselheiro espiritual, conforme prática antiga — e bem moderna! — de oficiais e governadores de consultar videntes para tomar resoluções. Após a conversão de Sérgio Paulo, o apóstolo nada lhe recomendou em termos de quebrar os pactos antigos feitos com os espíritos malignos através dos serviços do bruxo.

Um outro exemplo de como os apóstolos tratavam convertidos que vinham do ocultismo é o relato da conversão dos samaritanos em Atos 8. Lemos ali que os samaritanos em pêso seguiam a Simão Mago, um bruxo que praticava artes mágicas, e que era o líder espiritual da cidade, ou da região (Atos 8.9-11). Certamente a maioria dos moradores da cidade já havia, uma vez ou outra, se envolvido com Simão, através de consultas, “trabalhos”, invocação de mortos, e outras práticas ocultas populares daquela época. Quando Felipe ali chegou pregando o Evangelho no poder do Espírito, muitos deles deram-lhe crédito, e foram convertidos a Cristo. Felipe os batizou (Atos 8.12). O próprio bruxo foi batizado (8.13).

Mais tarde, os apóstolos vieram de Jerusalém examinar estes convertidos. Nada acrecentaram ao que Felipe já havia feito, a não ser orar para que os convertidos recebessem o Espírito Santo — procedimento necessário para que ficasse claro que, à semelhança dos Judeus no dia de Pentecostes, outros povos podiam também ser aceitos na Igreja de Cristo (At 8.16-17). Nenhuma palavra sobre o passado deles na feitiçaria! Nenhuma instrução a Felipe para que anulasse os pactos demoníacos daquela gente! Os apóstolos consideraram que a obra de Cristo nos samaritanos, convertendo-os, era suficiente para romper os laços antigos de pecado, ignorância, superstição e incredulidade.

E mesmo quando o bruxo deu sinais de que ainda estava “amarrado” ao seu passado, a orientação de Pedro foi: “arrepende-te e ora ao Senhor” (Atos 8.22). Pedro viu que Simão estava ainda “em fel de iniquidade e laço de amargura” (Atos 8. 23), mas não julgou que a solução seria “anular” os compromissos do bruxo com o mundo dos espíritos. A solução era um verdadeiro arrependimento e oração ao Senhor.

As tendências destas ênfases da “batalha espiritual”, portanto, acaba sendo a de diminuir o poder e a eficácia da suficiência de Cristo na vida do crente, ao introduzir a necessidade de coisas como a quebra de maldições hereditárias como condição para que o crente verdadeiro usufrua plenamente das bênçãos que Deus lhe tem reservado em Cristo.

Quebra de maldições: é bíblico?



O movimento de “batalha espiritual” ensina a necessidade de se quebrar maldições hereditárias e de se anular compromissos que ficaram pendentes com o diabo, mesmo após a pessoa ter sido convertida a Cristo. Ensina-se que herdamos as maldições que acompanharam nossos antepassados, por causa de seus pecados e pactos demoníacos, e que precisamos anular estas maldições hereditárias.

Um dos textos usados para defender este ponto é Êxodo 20.5, onde Deus ameaça visitar a maldade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração dos que o aborrecem.

Entretanto, ensinar que Deus faz cair sobre os filhos as consequências dos pecados dos pais, é só metade da verdade.

A Escritura nos diz igualmente que se um filho de pai idólatra e adúltero vir as obras más de seu pai, temer a Deus, e andar em Seus caminhos, nada do que o pai fez virá cair sobre ele. A conversão e o arrependimento individuais “quebram”, na existência das pessoas, a “maldição hereditária” (um efeito somente possível por causa da obra de Cristo). Este foi o ponto enfatizado pelo profeta Ezequiel em sua pregação ao povo de Israel da época (leia cuidadosamente Ezequiel 18).

Através do profeta Ezequiel, Deus os repreendeu, afirmando que a responsabilidade moral é pessoal e individual diante dele: “A pessoa que pecar, é ela quem morrerá — não o seu pai ou a sua mãe” (Ez 18.4b, 20). E que pela conversão e por uma vida reta, o indivíduo está livre da “maldição” dos pecados de seus antepassados, ver 18.14-19. Esta passagem é muito importante, pois nos mostra de que maneira o próprio Deus interpreta (através de Ezequiel) o significado de Êxodo 20.5.

Aplicando aos nossos dias, fica evidente que o crente verdadeiro já rompeu com seu passado, e com as implicações espirituais dos pecados dos seus antepassados, quando, arrependido, veio a Cristo em fé.

Tem mais. O apóstolo Paulo nos esclarece que o escrito de dívida que nos era contrário, a maldição da lei, foi tornado sem qualquer efeito sobre nós: Jesus o anulou na cruz (Cl 2.13-15; Gl 3.13). Ou seja, toda e qualquer condenação que pesava sobre nós foi removida completamente quando Cristo pagou, de forma suficiente e eficaz, nossa culpa diante de Deus. Ora, se a obra de Cristo no Calvário em nosso favor foi poderosa o suficiente para remover de sobre nós a própria maldição da santa lei de Deus, quanto mais qualquer coisa que poderia ser usada por Satanás para reivindicar direitos sobre nós, inclusive pactos feitos com entidades malignas, por nós, ou por nossos pais, na nossa ignorância.




Basta um estudo simples nas Escrituras, da linguagem usada para descrever nossa redenção, para que não fique qualquer dúvida de que o crente, à semelhança de um escravo exposto à venda na praça, foi comprado por preço, e que, agora, passa a pertencer totalmente ao seu novo senhor. O antigo patrão não tem mais qualquer direito sobre ele, como rezava a legislação romana da época. Assim, Paulo diz que fomos comprados por preço (1 Co 6.20; agora o, comprar, redimir, pagar um resgate — termo usado para o ato de comprar um escravo na praça, ou pagar seu resgate para libertá-lo), e que sendo agora livres, não devemos nos deixar outra vez escravizar (1 Co 7.23). Fomos resgatados (lutou) pelo precioso sangue de Cristo (1 Pe 1.18; cf. Ap 5.9).

Em resumo: “se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas antigas passaram: eis que se fizeram novas”. Não há nenhuma maldição que Cristo já não tenha quebrado na cruz e que não tenha já sido desfeita na hora da conversão (novo nascimento). O que os crentes precisam é santificação, e não quebra de maldição, para crescerem mais em mais no conhecimento de Deus e no serviço dele.